quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Muito Além das Palavras.

Em noites de calmaria intensa afogo-me com o som do silêncio. Paro, deito, fecho os olhos e ouço a noite a desenrolar-se. O Sol cheio de saudades de seu amado Céu contada à Via - Láctea entre lágrimas. O cochichar das estrelas. O glorioso mergulho de uma delas no mar. E a queda brusca de outra no chão. O despencar de mais uma, dançando no céu. A viagem ardente de um cometa. A vagarosa dança das nuvens sobre um céu negro. A serenata de amor do vento. O tic tac do relógio. O piscar dos olhos. A movimentada ansiedade da insônia. A respiração quente. A acelerada no coração.
Essas noites sempre me proporcionavam palavras de veludo faladas em tom baixo ao pé do ouvido. Nesse momento meu coração aperta-se de saudade, lembranças flutuam na memória, dançam palavras jamais esquecidas, com um gosto de ternura, um sobressalto na mente, um riso enfeitando o rosto, lágrimas transbordando os olhos - alegria costurada com abstinência -, e o vento que o tempo traz leva pra para longe tuas palavras de amor, e mesmo aquelas mais arrepiantes são arrastadas por ventos leves...
E então, outra lembrança real me areja a memória... Posso ver teus olhos cantando estrelas e teus lábios como um imã para os meus, desejando uma eternidade junto a ti, posso ver meus olhos nublados prontos para chover e um riso triste, de despedida.
Minhas maiores lembranças são os gestos. Os gestos, os toques, as mais detalhadas reações. Porque o vento é capaz de levar palavras, assim, soprando esquecimento. Adormeço ao som da música de silêncios, deliciada com o cheiro das lembranças dos teus gestos...
O que chamamos de amor jamais será palavra esquecida, distanciado por ventos, sejam eles fortes ou fracos. O meu amor por você sempre estará muito bem protegido, aqui dentro, de modo que nenhuma palavra o perca, para que o tempo não o desgaste.

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domingo, 25 de outubro de 2009

Pedidos e Confissões.

Olhe dentro de meus olhos em chamas
E tente apagar meu sofrimento insano
Cuja insistência vive a me chamar
Em tantas horas de sono,
caindo num poço profundo
Sufocado de discórdia e sensações de outro mundo.
Vive e me conte
o resto da história.
De novo estou a te olhar
E lhe coloquei na memória,
que é pra ver se na razão posso acreditar.
Julgue-me pelo tempo perdido
A espera, a demora, e o sentimento escondido
A ânsia de chegar, e finalmente brilhar
Depois de tanto tempo - e quanto!
de viver a imaginar.
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* Poesia feita há algum tempo para a aula de Língua Portuguesa. Eu diria que não é nada pessoal, somente alguns sentimentos escondidos que ficaram malucos e fugiram em forma de palavras.

sábado, 24 de outubro de 2009

Lembranças da Meia Noite.

Hoje eu estava recordando de algumas das muitas noites escuras e solitárias que passei há algum tempo atrás. Lembro-me que era uma quarta-feira, uma fria e nublada quarta-feira.
A insônia, sabendo a quantidade de poder que tem sobre mim, resolveu me dar descanso. Quem me acordou foram os arrepios. O frio cortava a minha pele de madrugada, fazendo-me levantar e rapidamente correr ao guarda roupas, à procura de algum cobertor – antialérgico, do jeito que gostas. Ao voltar cambaleando e sonolenta para cama, recebi o aquecimento que precisava – o físico, não o interior.
Alguns instantes depois, já havia sido embalada num sono profundo, deitada e presa, de forma carinhosa, nos braços de uma pessoa que era toda revestida em sonho. O local onde estávamos parecia ser um grande campo de flores grandes e cores vivas, que deixavam um cheiro doce e forte no ar.
Deitar nos braços de sonho me deixava completamente nostálgica. Porque, observando bem, eu estava sendo embalada num colo de mentira, fictício. Não poderia sentir o calor que sustenta corpo e corpo, não conseguia aconchego de verdade.
Durante muitas e muitas noites, me perguntava o porquê de me sentir tão sozinha. De ser tão sozinha. Desejava algo que fosse mais forte do que tudo o que me fazia mal e me tirava o sono, algo que fosse capaz de me deleitar de tal forma que espantasse tudo e qualquer coisa que me assombrasse. A parte corajosa de mim vivia à luz do dia...À noite, se escondia e me deixava ali, sozinha, medrosa. Eu não conseguia encontrar alguma saída.
Foi aí que vieste. Vieste feito susto e com toda uma onda de desconhecido na bagagem, e, ao me apresentar, descobri que todo aquele sofrimento não era tão em vão. Eu sofria, de fato. Mas todo esse sofrimento foi esvaindo-se quando cada palavra tua tocava meu ouvido com delicadeza e sutileza. Aos poucos, eu já me sentia nova de novo. Já não mais sentia medo, e, se tivesse que sonhar com campos floridos e braços em minha volta, esses seriam seus e de mais ninguém. Mesmo em sonho, sabia que seriam os mais reais se desejássemos e acreditássemos nesse amor que acabara de surgir. E acreditamos. E então, quando eu percebi, estavas a me abraçar. Tão forte, tão quente...Um escudo de tudo aquilo que desejasse se aproximar e tirar a felicidade que escorregava meu corpo, fazendo cócegas...E iluminava minha alma, me fazendo respirar sem doer um tantinho se quer...Pela primeira vez.

domingo, 18 de outubro de 2009

Carta I

" Dreamland (que agora se parece muito mais com Fearland), 18 de outubro de 2.009.

A você, bonita.

Estou tentando, há exatos dois dias, respondê-la da melhor forma que posso encontrar. Todas as minhas tentativas foram em vão. Se tem mesmo importância, eu quero dizer que isso é a coisa mais desconcertante do mundo. Mas de algum jeito eu sabia, sabia que quando tivesse de novo algo a dizer seria pra você. Nem que fosse só com palavras cobertas de silêncio, até o mais obscuro deles...
Desconcerta porque, em outras oportunidades, no passado, eu escreveria assim, à mão mesmo, páginas aos montes, até que a mesma reclamasse de cansaço e dor. Encheria de palavras doces, exatamente aquelas que te deixavam imobilizada, só com um sorriso-luz pra me lembrar que a vida é muito mais bela do que aparenta ser. Você me mostrou que uma pessoa – se for a pessoa correta -, é capaz de tornar e mudar o mundo interior de outra pessoa com uma facilidade enorme.
Por fim, entregaria pessoalmente, só pra você, num dos nossos esconderijos floridos – os de infância e os mais recentes -, num jeito de te dedicar o esforço em mim, mostrando que é só sua a compreensão de tudo o que a gente presenciou até aqui. Como se o que nós tivemos foi somente nosso e ponto final. Sem mais.
Desconcerta e aprisiona afirmar que não. Não, não posso te entregar minhas cartas pessoalmente. Não posso observar, atencioso, tuas reações de menina que acabara de ganhar uma boneca nova... De mulher que acabara de receber um novo vestido. Não posso olhar teus olhos de mar e dizer que vejo algo muito além da vida dentro deles, e, logo então, não podes corar as bochechas e me falar, baixinho, aquele “Eu te amo” bem sincero e que me sustentava mais do que qualquer outra afirmação.
Eu enxergava a gente se refletindo um no outro num acordo verdadeiro e aquilo afetava até meu jeito de falar com as pessoas, principalmente quando falava sorrindo. Se eu te disse naquela quarta-feira – o dia em que me dissesses que precisavas ir embora, ah, o pior dia do mundo – que se você me deixasse eu precisaria sempre recorrer ao passado para qualquer manifestação de alívio ou felicidade conseguir viver no agora, bonita, hoje eu sei o quão certo estava nas palavras que disse. Eu via a gente construindo um quebra cabeças perfeito e as últimas peças estavam quase encaixadas. Mas, aí, algo indesejável aconteceu e as peças que faltavam sumiram, assim, sem pedir permissão. Eu tenho que dizer, também, que não acredito de forma alguma que nossa história de amor vá terminar: o nosso acordo verdadeiro ainda está intacto. E o que sinto por você também.
Sabe o quanto indelicado sou nessas situações. Odeio despedidas, bonita, eu te falei na primeira vez em que te vi, quando tinha apenas meus nove anos e bola de futebol carregando na preocupação. Lembra? Lembra que duvidei que pudesse me vencer no jogo? Eu lembro claramente do quão estúpido fui, pois, uma semana depois, me mostrou que uma garota – uma garota como você! – pode fazer qualquer coisa...Principalmente o que dizem que ela não pode.
Desde o primeiro momento eu me senti impressionado demais por você. Por vários motivos: era aventureira demais, sonhadora demais, inteligente demais, atrapalhada demais, carente demais... Linda demais. E quando me declarei para você, há dois anos atrás, na formatura do Carl, eu percebi que meus pensamentos tortuosos de que é só você quem me traz felicidade embrulhada num pacote colorido (do jeito que tanto gostas) são mais do que reais. E a partir daí, o meu mundo fez mais sentido do que nunca. Eu sabia porque andava para frente e já não me importava mais com o que viria. Até que ele veio. Veio e te levou. Levou para longe de mim, bonita. Por que o tempo é assim? Por que não podemos voltar a ser adolescentes bobos e apaixonados fugindo dos pais para dormir, abraçados, sobre a grama e sob a luz da Lua? A Lua. Depois que você se foi, ela só se esconde de mim. Se conversa, é só pra dizer “você deixou ela ir embora, o que está fazendo aí parado?”. Ela não entende. Não entende que a minha única felicidade está a milhas e milhas longe de mim e, por mais que eu estique os braços, não consigo alcançá-la para bem perto de mim... Que é o lugar que deveria estar. Exatamente aqui.

Cuide-se, por favor. Cuide-se do jeito que eu gostava tanto de cuidar de você.

James."


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Carta Resposta à Mariella, personagem de minha chará. Continuaremos sempre esse confuso e emocionante romance juntas, através de cartas. O link da carta que James recebeu de Mariella está bem aqui: http://thoughtsandacupofcoffe.blogspot.com/2009/10/carta-i.html